Todo dia... Chega em casa, lava os pés (banhos só aos finais de semana) entra no quarto, tranca a janela, a porta, fecha a cortina senta e espera. Às vinte e três o sono chega, sempre nesse mesmo horário. Então levanta, percorre as paredes do quarto, tampa a fresta em baixo da porta com uma toalha velha, confere mais uma vez: trancada. O sono passa e volta à meia-noite, então repete o ritual e dorme, quando o sono não cansa e vai embora, para voltar uma hora depois, junto com o mesmo ritual.
Meia-hora, acorda, acende a luz, rodeia o quarto, verifica a porta e dorme de luz acesa, antes das coisas que podem aparecer. Meia-hora... tudo se repete.
Acorda, pontualmente as seis e trinta. Faz nova inspeção, mais minuciosa que qualquer outra, chama duas ou três vezes... ninguém atende. O quarto, como quase sempre, vazio. Há vinte e dois anos ninguém, além dele mesmo, entrava naquele quarto bolorento.
Passado a primeira hora da manhã, abre a porta com toda a cautela, e espreita, por dez ou vinte minutos, esperando algum tipo de surpresa desagradável. Nada. Desce as escadas, repara, sempre, nas teias de aranha no canto do teto. Sabe exatamente qual estava lá ontem e qual tinha sido construída durante essa noite.
Perdia-se então, no tempo e no espaço, perdia o chão, as paredes, as teias e toda a paranóia. Olhava, só fazia isso, por horas e horas. Nesse intervalo, comia, trabalhava, conversava com as pessoas ou não fazia nada disso, só olhava fixamente para ela e nela se perdia, como se buscasse algum sentido nisso tudo, como se esperasse alguma palavra, explicação. Esperava apenas uma expressão, uma expressão qualquer. Ela, como ele, apenas parada, não esperava nada.
Separava as melhores folhas do maço de alface e a alimentava, folha por folha, como um pai que alimenta o filho doente, concentrava-se nisso e não pensava no alface, que aparecia, sem qualquer explicação, todo dia pela manhã na geladeira. No fundo, não importava, era coisa pequena para se preocupar. Sabia que ainda estava naquele quarto, vinte e dois anos antes, olhando para a tartaruga que surgiu ao lado dos seus chinelos sem qualquer explicação.
Com a porta fechada, olhava tentando entender. E não entendia.
Meia-hora, acorda, acende a luz, rodeia o quarto, verifica a porta e dorme de luz acesa, antes das coisas que podem aparecer. Meia-hora... tudo se repete.
Acorda, pontualmente as seis e trinta. Faz nova inspeção, mais minuciosa que qualquer outra, chama duas ou três vezes... ninguém atende. O quarto, como quase sempre, vazio. Há vinte e dois anos ninguém, além dele mesmo, entrava naquele quarto bolorento.
Passado a primeira hora da manhã, abre a porta com toda a cautela, e espreita, por dez ou vinte minutos, esperando algum tipo de surpresa desagradável. Nada. Desce as escadas, repara, sempre, nas teias de aranha no canto do teto. Sabe exatamente qual estava lá ontem e qual tinha sido construída durante essa noite.
Perdia-se então, no tempo e no espaço, perdia o chão, as paredes, as teias e toda a paranóia. Olhava, só fazia isso, por horas e horas. Nesse intervalo, comia, trabalhava, conversava com as pessoas ou não fazia nada disso, só olhava fixamente para ela e nela se perdia, como se buscasse algum sentido nisso tudo, como se esperasse alguma palavra, explicação. Esperava apenas uma expressão, uma expressão qualquer. Ela, como ele, apenas parada, não esperava nada.
Separava as melhores folhas do maço de alface e a alimentava, folha por folha, como um pai que alimenta o filho doente, concentrava-se nisso e não pensava no alface, que aparecia, sem qualquer explicação, todo dia pela manhã na geladeira. No fundo, não importava, era coisa pequena para se preocupar. Sabia que ainda estava naquele quarto, vinte e dois anos antes, olhando para a tartaruga que surgiu ao lado dos seus chinelos sem qualquer explicação.
Com a porta fechada, olhava tentando entender. E não entendia.
Da hora pra caralho!!! A tartaruga chega na história sem aviso prévio, bem como ela entrou no quarto... aí a gente é obrigado a pensar nela... e não entende...
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