terça-feira, 26 de maio de 2009

Pais e filhos

Hoje matei um homem. Não que eu me orgulhe disso. Tão pouco me arrependo. Só do motivo, não do fato. Ele mereceu. Ela talvez merecesse muito mais. Pouco importa, hoje eu matei um cara.

Ainda tenho as mãos sujas de sangue, nesse banheiro imundo, d'um boteco não menos imundo. Mal consigo soltá-lo. Estou ensopado de sangue.

Confesso ter sentido um certo prazer enquanto a faca furava-lhe a pele e o sangue jorrava, feito um coxão d'agua furado. Filhodaputa, me sujou inteiro. Um certo prazer, não maior que o prazer de fumar um cigarro.

Um cigarro! Essa é a merda de não fumar, no dia em que um se faz necessário, não tem. Talvez no bolso dele: não lembrava que ele fumava essa bosta de cigarro barato, tem gosto de merda. Olhando bem agora, ele ainda me parece um pouco vivo. Acho de bom tom oferecer-lhe uns tragos, espero não ter lhe furado os pulmões. Sim, o cretino ainda esta vivo. Uma pequena volta na faca cravada no peito e mais sangue. Isso está uma sujeirada danada. Chega de me abraçar cretino, vai pro chão.

O motivo, preciso encontrar um. Ele mereceu, sei disso. Tenho um motivo, não teria feito sem um. Preciso me lembrar. Só lembro do beijo que ele me deu no momento em que lhe cravei a faca. Eu teria feito isso, para pesar mais a consciência de meu assassino. Bobagem. O pobre diabo só caiu sobre meus ombros. Está morto. Definitivamente.

Hoje matei um homem. Eliminar outro igual... acho até que me orgulho. Um pouco. Conhecia-o há tempos. 35, eu acho, ou mais, nunca fui muito bom com tempo e datas. Também não me importa. Hoje eu o matei. O motivo...

Aquela puta. Não profissional, só por prazer. Puta! Deve ter trepado com ele. Talvez tenha sido isso. Ele mereceu. Esse me parece um bom motivo. Talvez eu deva matá-la também, aqui, do mesmo jeito e deixar os corpos empilhados como se fizessem aquilo que já faziam há muito tempo em vida. Aquela puta! Está lá fora. Preciso chama-la aqui.

Sujo de sangue como estou, ela não virá. Merda. Da onde conheço esse bosta? Vou me lembrar... aos poucos a memória aparece, é sempre assim. Acontece por algum motivo e depois me lembro. Estou velho, eu acho. Mal lembro minha idade, não ao certo. Talvez 60. Cheio de rugas.

Nunca achei que matar fosse tão simples. Nunca fiz isso antes, eu acho. Não me lembro. Talvez tenha feito. É tão insignificante que talvez tenha me esquecido. Ainda não lembro quem é o sujeito, mas os olhos, enquanto morria, pareciam com os da vaca. 35 anos. Casamentos são assim, felicidade felicidade felicidade e um filhodaputa comendo sua mulher.

Vou matá-la! Ela merece. Tenho o motivo. Antes do fato. Melhor assim. Só que cheio de sangue a policia me pega fácil. Preciso sumir com as provas, limpar a blusa, esconder o corpo.

Não fiz nada, não há porque se limpar. Sumir com as provas é assumir o crime. Não... prefiro assim. Consciência tranqüila. Ser preso por um crime que não cometi. Não foi um crime.

Era meu filho. Eu acho. Era também o dela.

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