quinta-feira, 27 de agosto de 2009

schistosoma mansoni

a inquietude dos dias amenos
murmura entre os lábios.
se o sangue ainda pulsa
o desconforto é constante.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cutelo

"Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez è terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio."

O Estrangeiro - Albert Camus



Ontem, às 13h27, senti vontade de ver meu sangue espirrar. Sair por ai, na parada de sete de setembro, no carnaval fora de época de sabeláDeusonde, na igreja pentecostal, na casa da minha tia Julia. Sair por ai, borrifando meu sangue nos aventais brancos, nas criancinhas puras, nas putas, virgens, soldados, ladrões, mães, pombos, senhorinhas fazendo paçoca, vagabundos, alcoólatras.

Então só senti vontade de ver sangue, não o meu, de algumas pessoas. Algumas quaisquer, aleatórias, escolhidas com o mesmo critério de Deus. O cutelo. E arranquei, em pleno calor insuportável do sol, pernas como quem corta cana, rasgei troncos, separei cabeças. Com as bocas-de-lobo vomitando e jorrando, fiz meu tapete vermelho e caminhei triunfante pela rua sem graça, avisando a todos que merda toda está aí, não falta um pedaço sequer. Pro diabo, todos vocês!

Ontem, às 13h28, sentei pra esperar as tochas e foices.